TRAGÉDIA
LUSA
Autor:
Manuel Mar.
Capítulo
1 – NOBRE POVO
1.1
Nobre
povo! Por Deus abençoado,
distinguido
entre todas as nações,
na
descoberta, jamais foi igualado,
com
coragem e valentia deu lições,
lavrador,
marinheiro, nobre soldado,
destemido
em famosas expedições,
destronando
mitos dobrou o Cabo,
sofreu
pestes, mortes e privações,
perante
o inimigo jamais se curvou,
com
grandes feitos a fama alcançou.
1.2
Renovadas
foram as ínclitas gerações,
honrando o seu nome e a sua Gente.
Jamais
findaram as velhas privações,
e na sua pobreza o povo ungido sente,
que
vive não somente abandonado,
e
vítima de altas vilanias e traições,
busca de novo um ser predestinado,
que o
salve de passar tais privações,
mais
justiça e liberdade reclamaram,
mas
esses bens raros não alcançaram.
1.3
Já
cansados do reinado da injustiça,
votaram
a República como redentora,
mas,
foram vítimas da mais vil cobiça,
de
novo na miséria cairiam se não fora,
um homem
de fé, coragem e ousadia,
o
salvador da Pátria, um predestinado,
que
assumiu com destemida valentia,
as
rédeas do governo tão desgastado,
mas,
governando com génio Lusitano,
foi
firme, muito austero, mas humano.
1.4
Respeitada
a Lei e as Instituições,
A
Nação em paz alíviada respirou,
Remediando
seus males e precisões,
o
povo pelo seu pão muito labutou,
Por
Deus, pela Pátria e pela Família,
Com
renovada esperança e realismo,
vencido
o desespero e pérfida quesília,
desabrochou
sedutor o corporativismo,
os partidos passaram a simples ritual,
em
comunhão pela União Nacional.
1.5
Rejuvenesce
a insigne e amada Nação,
e por
seus vizinhos é agora respeitada,
a
fome, miséria, desordem e corrupção,
logo
tiveram melhor solução procurada,
de novo
a grei vive em paz os seus dias,
e ao
trabalho se dedica com amplitude,
há já
pão, vinho e folgosas romarias,
mais
gente feliz com dinheiro e saúde,
um
contrato de vassalagem celebraram,
jamais
em sua vida seu voto mudaram.
1.6
Nem
todos aceitaram a força do Regime,
Uns
quantos a derrubá-lo se empenharam,
com toda a firmeza o poder os reprime,
e
continuando a resistir poucos restaram,
pois
foram suprimidas as suas ideologias,
e
quem bem no peito sua dor não calou,
muito
sofrimento padeceu em seus dias,
pois muito castigo
e desterro encontrou,
os
que pelos seus ideais muito lutaram,
ou
ergendo a sua voz, jamais se calaram.
1.7
Restaurado
o poder na imensa Nação,
recoperado
o seu abandonado império,
derrotados
os inimigos de novo estão,
vive
a oposição desgraça e vitupério,
feliz
o povo tem agora mais abastança,
e um
homem honrado sustem o leme.
O
inimigo não gostando da mudança,
ataca
traiçoeiro, de novo o povo geme,
vítima
de utópicas e falsas ideologias,
que
lhe vão ensombrando os seus dias.
1.8
Numa
orquestrada luta se empenharam,
aqueles
que mais sentiram a opressão,
de
assalto e outras maneiras emigraram,
e bom
asilo na inimiga estranja lhes dão,
por
outros caminhos e renovadas alianças,
abalando
da pérfida guerra se furtaram,
de
derrubar o regime tiveram esperanças,
almejada vitória que jamais alcançaram.
Senhor
do poder aos ataques respondia,
Usando
a maior aspereza da sua polícia.
1.9
Na
cobiçosa estranja arranjaram aliados,
os
que contra o regime mais se revoltaram,
mas
seus propósitos só foram alcançados,
quando
os militares suas juras quebraram,
e
quantos pela Pátria sacrificaram a vida,
foram
traídos e por seus pares desonrados,
num
desonroso vexame pérfido e fratricida,
a
Pátria e o povo de novo são humilhados,
Portugal
atraiçoado estremeceu de vencido,
Sentindo
o futuro da Nação comprometido.
1.10
O
nobre povo agora vilipendiado,
cerrou
fileiras, contou sua gente,
e
sentindo-se de novo subjugado,
para a rua se viu correr de repente,
do
seu peito brotou um tal clamor,
que
bem alto muito longe se ouvia,
que
ao céu chegou toda a sua dor,
o
povo amargurado de novo pedia,
ao
Excelso Deus bendito e louvado,
que a
outra ditadura fosse poupado.
1.11
O
clima de guerra civil era evidente,
Quando o povo ultrajado se revoltou,
sentindo uma nova ditadura presente,
quando
à fascista ainda não perdoou,
vias
de comunicação foram cortadas,
os partidos marxistas estão de vigia,
mas as bocas de pavor estão caladas,
o
clamor da revolta sufoca em agonia,
num instante se viu libertada a Nação,
o povo fez abortar a calada revolução.
1.12
Muitos
de África regressam espoliados,
Trazendo
no seu peito triste recordação,
Na terra amada em que foram gerados,
Esperam
encontrar fraternal protecção,
Mas
outra gente sabida manda no povo,
Construindo
os alicerces da democracia,
Com fundada esperança no mundo novo,
Uma
vida de paz fraternidade e alegria,
Para
com liberdade se construir um futuro,
Onde
haja igualdade e progresso seguro.
1. 13
Foi Baco
por certo o inspirador,
dos
militares desta amada Nação,
que
outros nunca antes com valor,
tanto
Whisky beberam na televisão,
narrando
atléticos feitos e valentia,
o
povo liberto sente-se espantado,
e não
crendo naquilo que até via,
lhes
mostra bem não ter gostado,
manifestando
na muita reprovação,
näo
aceitar uma tal comemoração.
1.14
Muito
aliviados e satisfeitos ficaram,
aqueles
que longe viviam em desterro,
apressando-se
ao seu país regressaram
a
tempo de fazerem o sonhado enterro
do
velho regime cruel e facista odiado,
que
apenas com um gesto se desfazia,
nas
mäos daquele que o tinham amado,
e tâo podre, sem um único tiro cairia,
depois
de tantos anos de vil opressão,
näo
teve apoio nem de uma ùnica mäo.
1.15
Viva
a Revoluçäo! e morte ao fascismo!
canta
em coro o povo ainda espantado,
exaltando
com cravos o grande heroismo,
daqueles
que o regime tinham derrubado,
felicitados
foram durante uns bons dias,
em
festas de homenagem por tal vitória,
mas
com os cravos murcgaram alegrias,
carácter
efémero da mais humana glória,
enquanto
alguns felizes se vangloriavam,
já
havia opiniöes que näo concordavam.
1.16
Todos
os que tão satisfeitos ficaram,
não
relacionaram os símbolos exibidos,
nem
sequer alguma vez desconfiaram,
da
frescura dos discursos proferidos,
a
esperança de bem estar e liberdade
mal
brilhava, já lhe erguiam a sua taça,
mas
porque humana e feia a maldade,
a
porta que se abria trazia a desgraça,
muito
facilmente se deixará ludibriar,
quem tudo
quer ter sem nada pagar.
1.17
Depressa
se formam muitos partidos,
são
novas as simpatias e ideologias,
Mas
nem todos foram consentidos,
às
direitas foram proibidas as teorias,
acorrem
de turbilhão e são filiados,
fazem
festas em todos os comícios,
nos
campos os trabalhos arrumados,
as
liberdades deram já bons ofícios,
agora
extinta e humilhada a autocracia,
o que
todos reclamam é a democracia.
1.18
Num
instante os partidos que abriram,
para
reunir votos e o poder conquistar,
na
realidade nunca ao povo mentiram,
pois
a verdade tem um condão singular,
mas
deram-lhe festas com vinho e bolos,
com
recheio de promessas de entusiasmar,
jamais
se ouviram tão eloquentes e tolos,
nas
reviravoltas na a Nação venha a dar,
quando
já alucinado e de braço erguido,
grita!
O povo unido jamais será vencido.
1.19
Portugal
vê-se agora todo enfeitado,
com
fotografias, cartazes e bandeiras,
panfletos
espalhados por todo o lado,
sujam-se
paredes com muitas asneiras,
na
rádio e televisão passam os dias,
com
palestras explicando suas ideias,
e
todos prometem tudo sem fantasias,
só
para conseguir do poder as rédeas ,
mas o
povo aos poucos fica cansado,
ganhado
consciência, fica desconfiado.
1.20
Na
verdade o povo só gosta de festas,
quando
sente o celeiro bem atulhado,
fica
feliz não só dormindo boas sestas,
mas
quando nas calmas canto o fado,
pois
aquilo que o povo bem entende,
nasceu
assim e não lhe foi ensinado,
só
viver uma vida honrada pretende,
sabendo
bem o que é do seu agrado,
o
povo ama a liberdade e democracia,
mas
do que não conhece desconfia.
1.21
Muito
em breve o povo até já sentia,
que estava a ser de novo enganado,
pois
a dispensa já ficava mais vazia,
e não
aparecia o prometido 'el dourado',
cortadas
as ligações com o ultramar,
já a muitos,
um naco de pão faltava,
mesmo
aqueles que julgavam ganhar,
mal
sabiam a sorte que os esperava,
depois
da debandada veio a confusão,
já
muitos pediam contas à revolução.
1.22
Num
pedestal foram colocados,
os
heróis da vitoriosa revoluçäo,
exaltados
pelos feitos realizados,
com
muita ousadia e abnegaçäo,
o
povo unido bem alto clamava,
espantado
o país à vitória sorria,
aliviado
da opressäo que findava,
livre
a naçäo muito feliz se sentia,
e
cantando em coro nunca ouvido,
o
povo unido jamais será vencido.
1.23
E satisfeitos da ousada aventura
muito
sonharam os ditosos heróis,
livrando
o nobre povo da ditadura,
muito
alto brilharam como os sóis,
que o
povo deixa cego ao meio-dia,
apenas
com medo da força armada,
o
podre regime odiado na rua caia,
nem precisa foi uma única pancada,
Afinal
um regime que tanto assustava,
era
covarde como ninguém esperava,
1.24
E
porque já reinava o poder da rua,
surgiram
de pronto novos mandões,
o
povo queria ter a nação toda sua,
mantinha
no peito agravadas razões,
porém,
renasce novo mito e utopia,
que
vindo da estranja bem estudado,
o
povo deixa com a dispensa vazia,
sem
que tal tivesse sequer pensado,
logo
na gaveta o socialismo meteram,
pois sómente
a contestar aprenderam.
1.25
De
certo ficaram as musas revoltadas
com
tamanhas perdas sofridas agora
de
tal modo ficaram tristes e alheadas
que
nem sentem como o povo chora,
pois
sua voz melodiosa voz calaram,
com sabida
e profética eloquência,
o
património que à Lusa pátria legaram,
por
Deus, pelos homens e pela ciência,
foi
conservado por um homem senil,
e
desbaratado pelos valentes de Abril.
1.26
O
país libertado já ruma à deriva,
tendo
ao leme inexperiente capitão,
instala-se
a querela a rixa, e briga
o povo
para conseguir a libertação,
ouvem-se
discursos alinhavados,
com
repetidos slogans hora a hora,
os
interesses vitais são descurados,
os
escorraçados vão lá para fora,
o
País estava agora desbaratado,
o
povo ensaiava o seu novo fado.
1.27
Reinava
já incerto poder popular,
e
toda a Nação bradava dividida,
tal
situação não se podia aguentar,
já
muita gente sentia-se perdida,
os
comités lá estavam a controlar,
e os
patrões são à força saneados,
pois
outros querem agora mandar,
e
construir progressistas reinados,
o
povo que nobres feitos cometeu,
nunca
de tal desmoralização sofreu.
1.28
Cada
qual e muito à sua maneira
escolhia partido ou tomava opção,
todos
procurando uma verdadeira
forma
de governar a Lusa Nação,
mas da sua dispensa se esquecia,
e já
um pouco de tudo lhe faltava,
e a
fartura que toda a gente queria,
afinal
só de miséria é que chegava,
de
Àfriva retornavam mas famintos
e
filhos todos apertavam os cintos.
1.29
Num
reinado de opróbrio e inveja,
é
manietada a revolução dos cravos,
mas
do espólio nada há em sobeja,
muitos
sentem-se de novo escravos,
o vil
capital morreu de tão odiado,
por
outros a quem jamais pertenceu,
mas
por quem afinal era cobiçado,
e por
isso muito pouco lhe rendeu,
do
muito que a poucos foi roubado,
a
ninguém valeu um nome honrado.
1.30
Dos
novos senhores da revolução,
muito
poucos não foram apupados,
saudosos
e veneradores da tradição,
os
velhos mitos são reencarnados,
não
foi por bom senso que o povo,
voltou
as costas aos progressistas,
foi o
sentir-se explorado de novo,
e
serem demais os novos taxistas,
o
povo queria apenas restaurado,
um
País que sempre tinha amado.
1.31
Enquanto
durou a pesada herança
viveu
bem o País com novas cores,
mas
ainda uns nutriam a esparença,
já
outros viviam à custa de favores
de
credores àvidos de enriquecer,
nos
cofres da Nação já nada havia,
as
fábricas estavam a desaparecer,
o
campo muito pouco produzia,
até
as reserva de ouro se vendiam,
e
muitos dos que confiaram faliam.
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